Esse trabalho brota de dentro do meu jardim em ruínas, com a entrada dos meus meus filhos na adolescência.
O nome CENTENNIALS surgiu da vontade de encontrar uma palavra que desse conta de conectar, de alguma forma, as pessoas com quem me encontrei nesse trabalho. Compreendendo que o entendimento de uma geração possui várias camadas que não somente o tempo cronológico e com o processo vivo das mudanças acontecendo bem a minha frente, vou ao encontro de um grupo de pessoas dessa geração, em busca das nossas conexões e relações que afetam a minha experiência de viver.
Vejo seus corpos, coreografias, tatuagens, músicas, grafites, poesias, as cores nos cabelos, os piercings, palavras que eu desconhecia, gírias incompreensíveis, realidades que não eram nomeadas.
Escuto e fotografo adolescentes de realidades diversas em Belo Horizonte, entre 16 e 19 anos (mulheres cis, transgênero e pessoas não binárias) que desde muito cedo tem a vivência marcada por estarem na contramão de padrões ditados pela nossa sociedade, seja através do corpo, de questões da sexualidade, gênero, raça, relações familiares ou tudo isso junto. Essa geração tem a adolescência atravessada pela pressão e a ambiguidade da expressão das redes sociais. Nomes reais ou fakes, verdade X mentira, selfie X anonimato. Estão crescendo num tempo onde assistimos ao colapso do edificio binário (homem X mulher, feminino X masculino / heterossexual X homossexual).
Para esse jardim de dualidades e indefinições, crio retratos que surgem ao lado do que seria o oposto de alguma representação – gifs animados em pixels (quase) indefinidos que tornam-se a própria performance.
O trabalho reúne pedaços de imagens desconstruídas que se movimentam num fluxo contínuo e retratos que me encaram. Sou embalada pelas vozes adolescentes, que, como protagonistas de suas próprias histórias, me lembram sobre o devir como estado constante.
Se é pelo encontro do novo e das diferenças que acontecem nossas desconstruções diárias, eu quero reconstruir sobre ruínas.
Márcia Charnizon
Ficha técnica:
Criação, pesquisa, fotografia, produção e desenho do site – Márcia Charnizon
Trilha e efeitos sonoros – Pedro Charnizon
Assistente de produção – Pedro Moreira
Desenvolvimento do site – Paula Oliveira
Interpretação em libras e descrições – Marcella Sousa
Assessoria de Imprensa – Luciana d’Anunciação
Participantes:
Ali Villanueva
Ana Jardim
Anahi Nascimento
Bianca Stefane Pereira
Bruna Heloisa Ferreira Gomes
Clara Souza Catarina
Débora Zilah A. Spósito
Enoy Ferreira Maciel Eterovick
Layla Roberta Passos
Maria Barra
Maria Clara Ottoni
Max Bagno
Sabrina Soares
Sara Ribeiro Guimarães
Sophia Castro
Thalyssa Tomáz (Mt)
Teodora Velloso
Todos os áudios, vídeos, poemas, textos, colagens e desenhos são de autoria das pessoas que participaram desse projeto
Poema de Débora Zilah Andrada Spósito / Vento – música de Regina Souza / Desenho de Enoy F. Eterovick / Desenho de Sara R. Guimarães / Desenhos de Débora Zilah Andrada Spósito
Assista ao mini-doc CAIXA DE LUZ , sobre as correntezas criativas nesse trabalho
Agradecimentos:
Ana Charnizon, Ricardo Rabelo, Regina Souza, Patrick Arley, Ísis Medeiros, , Mariana Tavares, Goreti O. Lopes, Paula Vaz, Juliana Caldeira Borges, Marcelo Belém, Júlia Pontés, Luis Serguilha, Babaya, Chris Barra, Coletivo Reflex, Claudio Meilman, Daniela Charnizon, Érico Vieira, Patricia Saceanu, Samuel Vieira.
À equipe e todas as pessoas que integram a galeria e construiram comigo esse trabalho.
… “ Eu queria construir uma ruína. Embora eu saiba que ruína é uma desconstrução. Minha ideia era de fazer alguma coisa ao jeito de tapera. Alguma coisa que servisse para abrigar o abandono, como as taperas abrigam “…
(Ruína – Manoel de Barros)
Para Pedro e Nina